Lucélio, uma incógnita

POR NONATO GUEDES

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Constitui desafio para analistas e líderes políticos da Paraíba avaliar concretamente quais as chances de vitória de Lucélio Cartaxo na disputa pela vaga de senador em jogo nas eleições de outubro. Costuma-se dizer que invariavelmente cada páreo eleitoral tem um neófito. Lucélio é o neófito da vez. Nunca disputou mandatos na política-partidária, embora tenha tido militância na política estudantil, espécie de estágio probatório para vocações expressivas do cenário nacional. Sua atuação, como soi acontecer, dava-se mais nos bastidores, com as atenções voltadas para a estrela política do “clã”, o irmão gêmeo Luciano, que foi vereador, deputado estadual e é prefeito de João Pessoa.

     Lucélio não é totalmente jejuno em política, e vale citar apenas um exemplo: teve participação como coordenador numa das campanhas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Lula, na Paraíba. Possui trânsito nos altos escalões nacionais petistas, com figuras carimbadas – mesmo com algumas que foram condenadas no caso do mensalão e passaram a cumprir pena no presídio da Papuda, em Brasília. Lucélio não tem culpa se José Dirceu e José Genoíno foram presidentes do Partido dos Trabalhadores e parlamentares de representatividade dentro da legenda. Era com eles que, em certo momento da conjuntura política, tinha de dialogar, como o fizeram outros atores mais engajados na militância. Lembre-se, para efeito de ilustração, que José Dirceu cogitou seriamente a possibilidade de vir a ser candidato a presidente da República, numa operação de substituição a Lula.

      Os fatos, logo se percebe, não conspiraram nessa direção. Zé Dirceu meteu-se em trapalhadas, deslumbrado com a soma de poderes que concentrava nas mãos. Foi alvo, também, de queimação interna, diante das brigas que comprou nas franjas do Partido dos Trabalhadores. Foi tão obsequiado que passou a ser eminência parda. Estamos falando nos velhos tempos. Foi nesses tempos que Lucélio teve que passar pelo corredor que levava a Dirceu e a Genoíno, em congressos, em reuniões do PT ou mesmo em audiências privadas.

        Pulando essa página que, como dissemos, serve para ilustração de conjunturas, voltemos ao personagem Lucélio candidato a senador pelo PT na Paraíba. E numa chapa conjunta com o PSB do governador Ricardo Coutinho. Até então, PT e PSB viviam às turras na realidade local, reproduzindo um pouco a briga nacional que fez com que Eduardo Campos se lançasse à corrida pelo Planalto contra Dilma Rousseff. A aliança PT-PSB no Estado ainda está sub judice, diante de questionamento levantado pelo PMDB que reivindica primazia para se coligar com o partido da presidente Dilma Rousseff no Estado. Caberá à Justiça Eleitoral decidir, com base, essencialmente, em aspectos técnicos, puramente legalistas. É esta observância que o TRE costuma levar em consideração nas apreciações de casos desse tipo.

         Sim, e quanto às chances de Lucélio vitoriar? Num páreo em que dá combate ao ex-governador e ex-senador José Maranhão e ao ex-deputado federal e ex-senador Wilson Santiago, Lucélio, aparentemente, larga em desvantagem solar. Em tese. Na prática, pode vir a surpreender. Pela logística que está colocada à sua disposição, pelo engajamento simultâneo de lideranças petistas e ricardistas, por não ter ainda uma quota residual de desgaste como as quotas que Maranhão, em primeiro lugar, e Santiago, subsidiariamente, acumulam, se bem que este a uma certa distância. Temos a incógnita desta eleição. O provável azarão. O que cabe mesmo é acompanhar o desenrolar da movimentação dos postulantes ao Senado, com o registro de que a campanha majoritária não está inteiramente casada na Paraíba em nenhuma coligação. Digamos que Lucélio começa do zero. Pode chegar com o troféu nas mãos. É uma aposta alta, para quem gosta de apostar.

TÓPICOS

  …. O senador Cássio Cunha Lima continua focando seu arsenal de ataques, na campanha eleitoral, contra o governador Ricardo Coutinho, de quem foi aliado até pouco tempo. Trata-se de uma estratégia natural. O tucano precisa deixar claro e transparente que rompeu mesmo com Coutinho por divergir de práticas administrativas que ele coloca em prática. Entra em jogo a segunda parte – apresentar propostas diferenciadas das de Coutinho, inclusive no estilo de fazer. É isto o que está sendo feito constantemente pelo senador, na agenda política que cumpre e nas entrevistas que concede. Para ele, o Estado tem que virar a página da gestão Ricardo.

 …. Por “coincidência”, o governador Ricardo Coutinho centra fogo nas gestões de Cássio Cunha Lima à frente do Palácio da Redenção. Trata-se, na estratégia de Coutinho, de induzir o eleitor a uma comparação automática entre os períodos de gestão, ainda que o de Ricardo seja estatisticamente inferior ao que Cássio acumulou na passagem pelo poder provinciano. No fundo, no fundo, o interesse é o de provocar uma polarização, com isto afastando do cenário o senador Vital do Rêgo que é candidato pelo PMDB, bem como evitando que candidatos de partidos chamados nanicos venham a obter espaço na conjuntura paraibana.

…. Amigos íntimos do senador Cícero Lucena confidenciam que não está sendo fácil para ele dizer adeus à atividade política. A despedida de Cícero ficou implícita no documento em que postou nas redes sociais e em que pondera que não será mais candidato nas eleições deste ano, tendo em vista que o seu próprio partido, o PSDB, negou-lhe régua e compasso para enfrentar o desafio da reeleição. O presidente estadual, Ruy Carneiro, insiste em que foi oferecido apoio logístico a Cícero, insistentemente, para que ele concorresse a um mandato de deputado federal. Cícero renegou a oferta.

…. A vinda do vice-presidente da República, Michel Temer, a João Pessoa, nesta quinta-feira, é encarada pelo PMDB local como importante para vitaminar a candidatura do senador Vital do Rêgo ao governo do Estado. Na verdade, Temer não tem votos na Paraíba nem qualquer influência considerável. Sua visita tem um efeito, então, fortemente simbólico – o de demonstrar que o vice da presidente Dilma Rousseff sobe na Paraíba no palanque do senador peemedebista. Isto poderia induzir o eleitor, subliminarmente, a concluir que Dilma tem interesse na eleição de Vital ao governo. É difícil mensurar a repercussão que pode vir a ter semelhante estratégia. Só o futuro próximo dirá.

…. O ex-ministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro, filiado ao PP, deu uma volta olímpica para definir suas pretensões políticas este ano na Paraíba. Insinuou-se como alternativa ao governo do Estado, retirando segmentos de oposição ao governo Ricardo Coutinho. Depois, baixou a bola quanto a essa aspiração. Admitiu, então, que seu nome fosse trabalhado como perspectiva para o Senado Federal. Nova rodada de articulações, e Ribeiro bateu o martelo, ficando onde estava antes – ou seja, candidato novamente a deputado federal. Na Paraíba, diz-se que há uma diferença: desta feita, não há garantia de que, se for reeleita, a presidente Dilma Rousseff corteje a convocação de Aguinaldo, novamente, para uma pasta no segundo mandato. Esperar para ver ainda é a melhor saída.